Histórias para não esquecer por Laudelina de Oliveira
Dário Carrilho de Castro nasceu em 22 de março de 1906, em Taiaçu, São Paulo, lugar cujo nome guarda o vigor selvagem dos porcos que habitavam suas matas. Seus pais, Honório e Laudelina, vieram de Minas Gerais, e sua infância foi povoada pelos sons de uma família numerosa, onde os irmãos eram mais que sangue – eram presenças constantes, tão concretas quanto o cheiro da terra após a chuva.
Aos 21 anos, Dário casou-se com Philomena Vieira, sua companheira por 70 anos. Ele, lavrador; ela, cuidadora da casa e dos sonhos. No campo de Taiaçu, onde a terra parecia sempre faminta, tiveram 11 filhos, um legado de vida que resistiu às intempéries e às privações de um Brasil rural. Entre os filhos duas vivem hoje em Piraju Laudelina de Oliveira que aqui escreve e sua irmã Lúcia Rondina.
Das Dores
ao Recomeço
A vida do casal foi marcada por mudanças incessantes, um movimento contínuo entre cidades, como se buscassem na geografia o que faltava nas colheitas. De Taiaçu a Bauru, passando por São José do Rio Preto, Neves Paulista e tantos outros lugares, os Castros seguiram sempre em frente, mesmo quando o caminho era incerto.
Em 1951, Bauru tornou-se sua nova morada. E ali, como uma árvore que finalmente encontra solo fértil, a família enraizou-se. A cidade em expansão oferecia mais do que trabalho; oferecia a possibilidade de futuro. E foi nesse futuro que todos começaram a estudar, a trabalhar, a construir.
Um Homem de Fé
Dário não era apenas um homem do campo. Ele era um construtor, não só de paredes, mas de laços e esperanças. Em 1940, junto de compadres, erigiu a igreja matriz de São José de Taiaçu. Os quatro pedreiros deixaram seus nomes na porta do templo, como quem grava no mundo um gesto eterno de devoção.
Ao longo da vida, Dário dedicou-se à Igreja, seja como vicentino por 43 anos ou como fundador de creches e centros comunitários. Ele caminhava a pé, mesmo nos últimos anos, levando não apenas assistência aos pobres, mas a força silenciosa de sua fé. Seus passos, lentos, tinham a pressa de quem sabia que o tempo é curto para tanto que há por fazer.
O Amor Maior
Dário amava como quem respira. Amava Philomena, com quem dividiu 70 anos de vida. Amava seus filhos, que viram nele mais do que um pai – um exemplo. Amava o próximo, como a si mesmo, porque sua fé não era feita de palavras, mas de atos.
Em 11 de julho de 1999, aos 93 anos, Dário partiu. Mas ele não deixou o mundo; ele ficou em cada obra, em cada criança que sorriu em suas creches, em cada tijolo das igrejas que ajudou a construir. Ele ficou em Philomena, em seus filhos, e em todos aqueles que tiveram o privilégio de cruzar seu caminho.
Um Exemplo
de Vida
Dário Carrilho de Castro foi mais do que um homem – foi um gesto contínuo de fé e amor. E assim, como São Francisco, caminhou pelo mundo com coragem e determinação, mostrando que a maior obra que podemos construir é a do coração.