No último dia 20 de janeiro, aniversário da cidade de Piraju, um evento histórico marcou o calendário da comunidade: a reabertura da Arca do Futuro. Criada em 2000, o projeto idealizado por Else Dêgelo buscava congelar no tempo memórias, objetos e expectativas do início do milênio, a serem redescobertos 25 anos depois.
O momento de reabertura foi emocionante. As mãos de três pessoas, simbolizando diferentes tempos e papéis da história de Piraju, uniram-se para desvendar o que havia na arca de chumbo. Maurício Pinterich, prefeito em 2000, representou o passado ainda presente e seguindo. Else Dêgelo, a professora e idealizadora da arca, estava presente como guardiã do propósito original. E Carlinhos Pneus, atual prefeito, simbolizou o presente e o futuro.
Entre os itens encontrados estava um exemplar da Folha de Piraju, jornal que em 2000 comemorava 35 anos de história. Hoje, o jornal prossegue 60 anos depois de sua fundação em formatações diversas, registrando, publicando e contando as histórias, memórias e acontecimentos da cidade e região nas suas plataformas digitais.
Else, emocionada, falou de seu projeto, de vê-lo agora, 25 anos depois, esperando que as futuras gerações possam desfrutar dessa mesma oportunidade com a continuidade da arca na atual gestão de Piraju. Nesse momento, todos podemos refletir sobre a impermanência da vida e das coisas. Nem Else nem ninguém que viu fechar a arca em 2000 se lembrava de tudo o que tinha guardado lá. Isso mostra como o tempo apaga detalhes, fatos antes importantes e dissolve confusões,mágoas,alegrias principalmente reforçando o quanto o presente é precioso e também a vida humana depositada ali na sua impermanência.
Maurício, o ex-prefeito, em seu discurso fez questão de citar companheiros e diretores da época que já não estão mais entre nós, destacando como a arca se tornou um memorial vivo. Uma cápsula do tempo que nos faz valorizar o que fomos e refletir sobre o que somos.
Else também reforçou o desejo de continuidade para o projeto, mas reconheceu as limitações do tempo. "Na próxima abertura, em 2050, é pouco provável que muitos dos que estão aqui hoje estejam presentes. Eu mesma não estarei aqui, só se for um esqueletinho, mas a arca continua um chamado para as próximas gerações."
O significado das três mãos unidas ao redor da arca trouxe ainda mais profundidade ao momento. Elas não apenas abriram um recipiente cheio de lembranças, mas representaram o entrelaçamento de histórias diferentes em contextos diversos de causas e condições. Assim como na pré-história, onde as mãos deixavam marcas em cavernas para contar sua passagem, ali estavam as mãos de Else, Maurício e Carlinhos em união, talvez marcando um novo capítulo da cidade que a arca aberta por eles 25 anos depois nos fez melhor compreender e vivenciar com afetividade.
Na infância, aprendemos que as mãos servem para contar até cinco, para somar e multiplicar. Na maternidade, deixam as mãozinhas registradas como marcas e símbolo do início da vida. E em Piraju, serviram para abrir uma arca que conectou passado, presente e futuro. Essas mesmas mãos carregam marcas de trabalho, cultura, esperança e mudanças.
Que a Arca do Futuro continue a ser aberta por mãos de muitas gerações e que os gestos de cada mão e o conteúdo ali depositado a cada 25 anos sirvam não só para lembrar do que fomos, mas para planejar o que queremos ser e construir e também o que legamos para um mundo mais justo.