Em 12 de junho de 2014, o Brasil viveu um momento de euforia ao sediar a partida inaugural da Copa do Mundo contra a Croácia na Arena de Itaquera, em São Paulo. Aquela vitória por 3 a 1 marcava o início de um evento que não só prometia elevar o orgulho nacional, mas também gerar legados duradouros em infraestrutura e desenvolvimento urbano. Contudo, passados dez anos, o descompasso entre a grandiosidade dos planos e a realidade é evidente, especialmente quando se observa o estado das arenas e projetos prometidos.
Entre os 12 estádios construídos ou reformados para o evento, nove ainda não foram pagos integralmente. A Arena de Pernambuco, em particular, tornou-se um símbolo do uso ineficiente de recursos públicos. O Estado de Pernambuco, que se comprometeu a pagar R$ 3 milhões mensais durante 15 anos à antiga Odebrecht (hoje Novonor) devido ao rompimento do contrato de concessão em 2016, se vê ainda mais pressionado pela falta de novos investidores e alternativas viáveis.
O rompimento do contrato com a administradora da Arena de Pernambuco, decidido pelo então governador Paulo Câmara, visava retomar o controle e buscar uma nova concessão. Entretanto, a gestão pública não conseguiu atrair o interesse necessário, resultando em uma manutenção onerosa e sem a prometida “Cidade da Copa”. O projeto, idealizado pelo governador Eduardo Campos, deveria transformar o entorno do estádio em um bairro planejado com ampla infraestrutura e residências para 40 mil pessoas.
O plano da “Cidade da Copa” previa a construção de hospitais, centros de convenções, hotéis, escolas, e outros serviços, com um investimento superior a R$ 1 bilhão. Dez anos depois, o entorno da Arena de Pernambuco permanece subdesenvolvido, e os investimentos não se materializaram. A promessa de um desenvolvimento urbano estruturado deu lugar a uma paisagem marcada pelo abandono e pela falta de progresso.
A decisão de construir a Arena de Pernambuco foi tomada em detrimento da modernização do Estádio do Arruda, a casa do Santa Cruz. A modernização do Arruda, com um custo projetado de R$ 190 milhões, era uma opção mais econômica comparada aos mais de R$ 740 milhões gastos na construção da nova arena. A justificativa de “inviabilidade estrutural” para não reformar o Arruda revela-se agora como um equívoco estratégico, considerando os elevados custos e a baixa utilização da nova arena.
Com o estádio de Pernambuco subutilizado e o Estado arcando com custos elevados, a reflexão inevitável é sobre a real necessidade de tais investimentos. O legado da Copa, que deveria ser um motor de desenvolvimento e orgulho, tornou-se um fardo financeiro e um exemplo de má gestão pública. A inação em buscar soluções sustentáveis para a manutenção e utilização da Arena de Pernambuco agrava ainda mais a situação, prejudicando o contribuinte.
Neste contexto, as soluções para esse impasse poderiam envolver a revitalização do projeto da “Cidade da Copa”, com uma revisão dos investimentos necessários e a busca por parcerias público-privadas mais robustas. Outra alternativa seria a concessão do estádio a entidades privadas com expertise em gestão de arenas, reduzindo o ônus financeiro sobre o Estado e garantindo um uso mais eficiente da infraestrutura.
Em paralelo, a modernização de estruturas existentes, como o Estádio do Arruda, poderia ser uma abordagem mais sustentável para futuros eventos. Aproveitar infraestruturas preexistentes, com reformas e adequações, pode proporcionar economias significativas e uma melhor integração urbana, evitando os erros cometidos com a construção de novas arenas.
O décimo aniversário da Copa do Mundo no Brasil traz uma reflexão crucial sobre a gestão de grandes eventos esportivos e seus legados. É vital que futuras decisões sejam baseadas em análises criteriosas e na sustentabilidade a longo prazo, para evitar que promessas grandiosas se transformem em pesadelos financeiros. A experiência pernambucana serve como um alerta e uma lição sobre a importância de planejamento cuidadoso e responsabilidade na administração de recursos públicos.
Por fim, a sociedade deve exigir maior transparência e eficiência no uso do dinheiro público, especialmente em projetos de grande escala. O caso da Arena de Pernambuco destaca a necessidade de uma governança mais responsável e de um comprometimento real com o desenvolvimento sustentável. O legado da Copa pode ainda ser resgatado, mas requer uma mudança significativa na abordagem e na execução de projetos de infraestrutura no Brasil.
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Prof. Dr. Pedro Ferreira de Lima Filho é
Filósofo, Pedagogo, Teólogo, Pós-graduado em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário, Especialista Educação Especial e Inclusiva, e em Ensino Religioso, Mestre em Bíblia, Doutor em Teologia, Professor Universitário e Membro Colaborador da Comissão de Estudos sobre o Tribunal do Júri (CETJ) da Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB/PE).
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