No Brasil, a morte costuma trazer consigo um perdão automático e uma onda de louvores. É inegável que Silvio Santos ocupa um lugar de destaque na história da televisão brasileira. Dentro do seu nicho, foi o maior apresentador de programas de auditório que o país já viu (embora, pessoalmente, optamos por Chacrinha).
O “Baú da Felicidade”, que Silvio ganhou de presente, tinha muito mais a ver com um esquema de enganação do que com uma promessa de sorte. Depois, veio a Tele Sena, uma aposta disfarçada de título de capitalização, sem garantias financeiras sólidas por trás.
Ele quase se aventurou na política, mas sua candidatura à presidência foi barrada por questões de elegibilidade. Apesar disso, Silvio sempre foi um fiel apoiador dos presidentes em exercício, se autodenominando “office boy de luxo do governo” — não importando qual governo estivesse no poder.
Como muitos magnatas da comunicação, como Roberto Marinho, Silvio apoiou o golpe militar de 1964, mas sua influência foi além. Ele próprio admitiu que ganhou seu canal de TV das mãos do general-ditador Figueiredo. Durante os intervalos de sua programação, não hesitava em promover campanhas com o lema do regime militar: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. E durante o governo Bolsonaro, reviveu o programa “A Semana do Presidente”, uma marca dos tempos da ditadura.
Em 2010, o Brasil viu vir à tona um escândalo envolvendo o Banco PanAmericano, de propriedade de Silvio, que havia realizado operações fraudulentas no valor de R$ 4,3 bilhões - o maior escândalo financeiro da década. E quem poderia esquecer que ele se apropriou da ideia original do Big Brother Brasil, rebatizando-a de “Casa dos Artistas”?
E não devemos deixar passar em branco sua postura em relação ao Teatro Oficina e Zé Celso, marcada por uma atitude que muitos consideram covarde.
Silvio Santos é, sem dúvida, um dos maiores ícones da nossa televisão. Mas santo, ele só tinha no sobrenome.
Por:
Carlos Daniel Targino da Silva (Daniel Targino) - Correspondente Jurídico e Pesquisador na área do Direito Brasileiro.
Prof. Dr. Pedro Ferreira de Lima Filho (Pedro Filho) - Filósofo, Pedagogo e Teólogo.