A devoção a Nossa Senhora do Rosário iniciou-se com São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, por volta do ano 1200. De acordo com a tradição, a Virgem Maria apareceu a São Domingos e “entregou-lhe” o Rosário, o qual liderou na sua propagação. No século XVI, esta devoção foi propagada pelos missionários portugueses no Congo. Trazidos para o Brasil sob a condição de escravos, trouxeram também esta devoção mariana, onde os escravos organizariam as suas irmandades erguendo as suas próprias paróquias. Nossa Senhora do Rosário, portanto, seria a padroeira de muitas delas; os dominicanos só chegariam ao Brasil no século XIX.
O título específico “Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos”, não é comumente encontrado no Congo. As irmandades de “homens pretos” surgiram na América colonial no período escravocrata como forma de socialização, resistência e cooperação entre os escravos e os alforriados.
A primeira irmandade negra católica no Brasil, foi fundada em Olinda, Pernambuco, no século XVI. Em São Paulo, a primeira Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, foi fundada no século XVIII. Sua história começou com uma petição da Irmandade, em 1721, ao então rei de Portugal, Dom João V, pedindo permissão para construir um templo “que pudesse solenizar os mistérios do Rosário da Mãe de Deus”. Apesar de não haver registros da resposta real, presume-se que tenha sido favorável, uma vez que nos anos subsequentes começou um processo de arrecadação de fundos para a construção da igreja. Nesse mesmo ano, enquanto não tinham os recursos necessários, nem a permissão oficial da realeza, os escravos, proibidos de frequentar as igrejas dos brancos, construíram uma capela de taipa de pilão, isto é, paredes de barro compactado com a mistura de solo, areia e argila, nas proximidades do ribeirão do Anhangabaú, na época um subúrbio da cidade. Foi nesse terreno, doado pela Câmara de São Paulo para a Irmandade, em 10 de julho de 1728, e, com a arrecadação do ermitão Tavares, é que foi então possível a construção de uma igreja canônica. As obras começaram neste mesmo ano, e há registros que foram acabadas em 1737.
A partir do final do século XIX e início do XX, a cidade de São Paulo passou por um processo de modernização, que implicou no realojamento da igreja em outra localidade. O primeiro passo deu-se em 1870 com a demolição do cemitério dos escravos, existente ao lado da igreja, para a criação do Largo do Rosário. Em 1900 decidiu-se implantar um replanejamento urbanístico que incluía a ampliação do Largo do Rosário. Dessa forma, em 1903, a Câmara Municipal votou a lei nº 607, que declarava de interesse público a desapropriação dos bens da Irmandade. Foi de 250 contos de réis a indenização, mais a doação do terreno no Largo do Paiçandu, que deu origem à nova igreja onde atualmente se encontra. A construção demorou alguns anos, devido às condições do terreno, insano por causa de alguns córregos que por ali passavam, sendo concluída em 15 de abril de 1906.
N. S. dos Homens Pretos! Rogai por nós!
O autor
Padre Luiz Antônio Pereira
Assistente eclesiástico da Pastoral da Sobriedade. Vigário
E-mail: laalvesop@gmail.com escreve regularmente uma coluna sobre aparições e denominações de Nossa Senhora na Folha de Piraju desde 2016. ´Serve na Paróquia de São Sebastião em Piraju.